MANDUCA
DA PRAIA CONTRA FLORIANO DE ABREU
Plácido de
Abreu, ou Pompeo Steel, como gostava de ser conhecido, era um misto de
capoeira, militante republicano e literato. Várias vezes tentou entrar no seleto
mundo da academia literária, sem sucesso. A sua outra obra, Nagôas e
Guayamús, continuam desaparecidas. Apesar de republicano da primeira hora,
desencantou-se quando o marechal Floriano Peixoto rasgou a Constituição de
1891. Aderiu à revolta da armada e foi assassinado em Fevereiro de 189456. Em
Dezembro de 1861 o próprio Floriano, ainda cadete da Academia.Militar,
enfrentara o lendário Manduca da Praia e a sua malta e, segundo conta a
tradição, batera-se com os navalhistas, usando golpes de habilidoso capoeira.
Esta história retrata quanto a capoeira seria parte integrante das memórias de
juventude para a geração que dominou a República na viragem do século:Era uma
noite quente e alguns colegas de Floriano saíram do Largo de São Francisco,
onde era a Escola Militar, e dirigiram-se ao Largo da Carioca. Ali foram
barrados pelos capoeiras sob a chefia de Manduca da Praia, chefe de malta de
Santa Luzia. Tiveram de bater em retirada. Acabrunhados e tristes, reuniram-se
no Largo. Aproximou-se deles o cadete Floriano, na sua farda da Escola Militar.
Conversando com os colegas, soube do acontecido.
— Só isso
senhores? Esperem um pouco que eu já venho.Regressou vestindo um casaco velho e
comprido. Na cabeça, um grande chapéu de abas largas. E uma bengala, que
serviria de porrete. Apontou na direção do Largo da Carioca:
—«”Podem vir
rapazes!”..»O grupo seguiu até à Rua da Vala (atual Uruguaiana), onde estacaram:
ali estava Manduca da Praia e os seus companheiros.
Floriano
continuou em linha reta até chegar junto de Manduca. Frente a frente como
lendário chefe de malta, disse:
— Com sua
licença, meu senhor, nós vamos passar para o Largo da Carioca.
— Aqui ninguém
passa — retrucou o capoeira, sorrindo, à espera do combate.
Imperturbável,
Floriano aplicou uma rasteira em Manduca, enquanto gritava aos seus colegas:
— Podem passar,
rapazes. Encorajados, os jovens saltaram sobre a malta e, enquanto o seu chefe
permanecia fora de combate, deram um surra nos navalhistas. Pouco depois,
amarrotados, e em alegre algazarra, chegavam ao Largo da Carioca. Entre os
amigos do jovem Floriano que naquela noite deram cabo da malta de Santa Luzia
estava Juca Paranhos, futuro barão do Rio Branco.
POSTADO POR MESTRE BICHEIRO
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